por Manuel Luciano da Silva, Médico, com a devida vénia.  

"Camões, o maior emigrante de todos os tempos!
Por Manuel Luciano da Silva, Médico  

   
Luis Vaz de Camões
  Em 1977  Governo Democrático Português decretou que o "Dia 10 de Junho",  devia ser uma trindade:  "Dia de Portugal", "Dia de Camões" e  "Dia das Comunidade  Portuguesas Espalhadas pelo Mundo!"
Desde aquela data, nós, emigrantes,  ficamos muito  contentes porque passamos a ter como patrono exclusivo o maior poeta universal da Língua Portuguesa, Luis Vaz de Camões, autor de "Os Lusíadas",  o épico imortal de Portugal.
Nós, emigrantes, aceitamos de bom grado o Dia de Camões como "Dia do Emigrante Português", pois Camões também foi emigrante durante DEZASSETE anos!
  Nasceu, não se sabe bem onde, no mesmo ano em que morria Vasco da Gama, o herói de "Os Lusíadas", o descobridor do caminho marítimo para a Índia.  


Partida em 1497, do Tejo, Lisboa, Portugal, da frota de Vasco da Gama para a descoberta do Caminho Marítimo da Índia.    Notar que o centro da pintura é a Cruz da Ordem de Cristo. Notar também na extremidade inferior esquerda um  velinho marcado com uma bolinha branca: é o "Velho do Restelo". Leia as profecias  do "Velho do Restelo"  nos  LUSÍADAS, últimas vinte Estâncias do Quarto Canto.   
Camões veio a falecer na maior miséria, em Lisboa, em 1580, no mesmo ano em que Portugal também morria, perdendo a sua independência a favor do jugo de Espanha.
Há quem diga que Camões chegou a ser estudante em Coimbra. De certeza, sabe-se que  frequentou a Corte Real em Lisboa, onde angariou  grandes inimizades por ser muito brigão, galanteador e por possuir um riquíssimo talento. Mas foram as sua aventuras amorosas e as invejas na Corte que o levaram ao desterro, primeiro no Ribatejo (Constância) e depois em Ceuta, onde perdeu o olho direito numa escaramuça.
  Quando Voltou a Lisboa, envolveu-se  novamente em desordem com um nobre da Casa Real, por causa de amores, tendo sido preso  durante nove meses.  Preferiu então ser desterrado para a Índia por não poder mais viver em Portugal.
Foi na viagem para a Índia, enfrentando tempestades, tormentas e o gigante Adamastor que Camões se inspirou para escrever a epopeia nacional  portuguesa "Os Lusíadas".

 
 
Vasco da Gama  quando chegou à  India.

Mesmo em Goa, Camões sempre satírico, criticou severamente o Governador, tendo sido mais uma vez desterrado para as Molucas e depois para Macau, Como ele diria: "Se mais mundo houvera, lá chegara".
Quando viveu em Lisboa, Camões sempre aspirou conquistar o coração das donzelas e princesas da Corte Real, mas nunca foi correspondido e só sofreu desgostos.  Por contraste, só quando era emigrante, muito longe da Pátria, do outro lado do mundo, é que Camões amou profunda e sinceramente uma mulher, quase escrava, vivendo com ela, não num palácio, nem num bairro de lata, mas sim,  numa gruta em Macau!
Como emigrante, Camões passou fome, comeu pão que o diabo amaçou, sofreu doenças e paixões. Como emigrante, teve que se adaptar a remotas gentes, de cor escura, negra, amarela, ferozes, hostis, pacíficas e hospitaleiras.  
Para ganhar  o pão nosso de cada dia, Camões, como emigrante, teve vários empregos no Oriente, chegando mesmo a ser em Macau, Provedor-Mor  dos defuntos e ausentes.
Como emigrante, Camões sofreu profundamente vicissitudes e misérias. É ele próprio que nos diz em verso deixando a vida "pelo mundo em pedaços repartida". e "a alma chagada, toda em carne viva".
Também como emigrante, apesar da fortuna nunca lhe ter sorrido, Camões quis voltar  à Pátria. E ao fim de treze anos no Oriente, saiu de Macau, mas sofreu um naufrágio perto de Camboja, salvando a muito custo a vida e o manuscrito de "Os Lusíadas".
A viagem de regresso foi interrompida por dois anos em Moçambique, onde a sua pobreza era tanta que "comia e vestia à custa de amigos".
  Foi durante a sua malograda vida de emigrante que Camões escreveu os seus melhores sonetos e "Os Lusíadas", monumento da alma lusitana, a Bíblia do Povo Português!  
EMIGRANTES - OS MAIS VALOROSOS  
  Quando fazemos um exame retrospectivo e panorâmico das letras portuguesas, verificamos que os maiores vultos da nossa história e da literatura, todos foram emigrantes:
  Damião de Góes, Francisco Manuel de Melo, Eça de Queiroz, António Nobre, Antero de Quental, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Bocage, Sá de Miranda, Ramalho Ortigão, Pedro Vaz de Caminha, Fernão Mendes Pinto, Almirante Gago Coutinho, Ferreira de Castro, Fernando Pessoa, e tantos outros.  Até Santo António de Lisboa, uma centena de Santos Portugueses e os dois Papas Portugueses foram emigrantes!
Não há dúvida que os nomes mais gloriosos da história de Portugal, desde navegadores,  escritores, historiadores e missionários,  TODOS tinham sangue emigrante!
Foi bom os governantes de Portugal nos legarem o  "Dia de Camões", como Dia do Emigrante Português. Aceitamo-lo, alegre e orgulhosamente, porque nós emigrantes  fazemos parte da Nação Peregrina Portuguesa, como diria Camões "pelo mundo em pedaços repartida". Somos 40 por cento dos portugueses espalhados pelo mundo, ou seja 4 milhões.
  Quando vou a Portugal e tenho ocasião de falar com professores universitários  digo-lhes que Camões foi o MAIOR EMIGRANTE DE TODOS OS TEMPOS.  Ficam espantados e até aborrecidos porque querem que  Camões seja só para eles. Como estão enganados os camoneanos.
  Leva tempo mas terão que apreender  a verdade:
  Ser-se emigrante é duro, mas também se fica mais homem!    E porque não dizê-lo, mesmo longe da Pátria-Mãe,  como emigrantes, nós  sublimamos  muito mais o sentimento  profundo de sermos portugueses!"